Tim Maia: será que ele vem?
Pode não ser novidade pra muita gente, mas vou contar assim mesmo. Depois que adquiriu certa notoriedade, Sebastião Rodrigues Maia (o Tim Maia) desenvolveu uma fama muito peculiar. Nunca dava pra saber se o cara ia aparecer em um compromisso ou não, inclusive em seus próprios shows. Pra quem duvida, recomendo a biografia do maluco, escrita pelo Nelson Motta, produtor, jornalista e amigo de longa data do "síndico". O nome do livro é "Vale tudo: o som e a fúria de Tim Maia", da editora Objetiva. Bem bacana (inclusive, poderia se chamar "O som e o peso de Tim Maia", já que a abertura de cada capítulo dá conta de quantos quilos Tim Maia tinha nas épocas descritas). E certas passagens mostram como Tim se tornou uma lenda, não só pelo som, mas também pelo comportamento errático. Como na vez em que ia fazer um show no Morro da Urca, no Rio, e resolveu ficar com medo de pegar o bondinho pra chegar lá em cima!
Lembro de ver uma reportagem sobre o último show que ele fez antes de morrer, e a matéria abria com um "fala povo" (jargão horrível do jornalismo, que significa entrevistas com as pessoas passantes em determinada situação, sobre o tema da reportagem) onde o repórter perguntava "E aí? Você acha que ele vem? Acha que o Tim vai aparecer?" (!!!!!!). Bem, ele apareceu, e, logo depois, nunca mais apareceu vivo (como fez tantas vezes em que estava com a saúde perfeita), vítima de uma vida de excessos.
Soou familiar? Arrisco dizer que todo mundo tem pelo menos um amigo ou conhecido que "encarna" o Tim Maia, sendo músico ou não. Eu tive minha cota desses tipos. Um "vou com certeza" vira, na verdade, um "não tenho a menor ideia se vou, e provavelmente não vou aparecer, mas você já sabe, né?". Ligar nem adianta. O celular, que tem "o melhor sinal do Brasil", vira uma caixa postal permanente. E, quando atende (QUANDO atende), rola um "já tô no metrô!" ou "tô cruzando a Rebouças", quando a pessoa ainda nem tomou banho pra sair de casa.
E você espera. Meia hora. Uma hora. Nada. Quem foi amaldiçoado com o defeito da pontualidade (o que significa chegar pelo menos 15 minutos antes do horário combinado, nos casos mais graves) sofre. E quando o/a sujeito/a (existe feminino de sujeito?) finalmente chega (QUANDO chega), com uma cara de ordenhador de vacas? Dizer o que?
É rir pra não chorar.
Bem, eu, há algum tempo me livrei dos Tim Maias contumazes da vida (menos o original, que a gente perdoa, sempre). Recomendo que você faça o mesmo. Afinal, eles só são divertidos em biografias. Quando você faz parte da graça, acaba sendo muito sem graça.
E se a espera não for muito longa, ouça no REPEAT o Maia original arriscando um soul em inglês em "Jurema" (vídeo abaixo), do primeiro disco dele, de 1970.
E quem não dança segura a criança.
Vai.
Um comentário:
Muito bom!
Aproveitando o gancho compartilho uma daquelas "anedótas": outro dia, em uma daquelas reuniões em que se discute quem será chamado para a festa, foi citado o nome do Léo Maia. Daí um (in)oportuno brincou: "Será que pelo menos ele aparece". Rolaram algumas risadas contidas. Foi legal e tal. Daí uma senhora, que eu nem sei descrever, solta: "Quem sabe a alma dele não vem", se referindo ao Tim, quando a piada era apenas sobre a fama dele, que supostamente teria sido transmitida ao filho... dá para acreditar!
Sabe do que mais? Eu tenho esse livro, muito bom! Ou melhor, tinha, está no seleto grupo de livros que a gente empresta (para a amiga com quem estamos compartilhando privilégios) e nunca mais vemos. Mesmo assim, endosso sua indicação.
abraço
marceloquaz
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