27.10.09

Pra ver a banda passar! Strange Music, bonequinh0+< e Irmã Talitha em São Paulo


Experimentalismo marca apresentação das bandas Strange Music, bonequinh0+<>no Splash Rock Bar. Casa será palco do reencontro de representantes da cena de Bauru-SP

No próximo sábado, 31 de outubro, às 21h00, o Splash Rock Bar reúne dois nomes da efervescente cena underground de Bauru-SP. A casa vai abrigar o show gratuito das bandas Strange Music (trio de rock alternativo eletrônico/orgânico e lounge), formada em 2006, e da veterana underground bonequinh0+< (garage e noise rock), que já acumula 13 anos de estrada, e se prepara para o lançamento do disco Hellven. É a primeira vez em três anos que as duas bandas dividem o mesmo palco, após a mudança dos integrantes da Strange Music para São Paulo-SP. Ainda na mesma noite, a paulistana Irmã Talitha completa o show com seu hardcore pulsante.

Para os integrantes da Strange Music, a apresentação vai servir para mostrar ao vivo algumas composições do terceiro disco, Música Estranha, em fase de gravação, além de ser uma oportunidade de matar as saudades da cena bauruense. “É um prazer poder ouvir ao vivo mais uma vez o som noise e cru da bonequinh0+<, que inclusive já participou de alguns shows com a gente, quando estávamos começando em Bauru”, diz Diego Bravo, um dos guitarristas e programadores da Strange Music.

O grupo esteve em destaque durante o final de 2008 e primeiro semestre de 2009, principalmente após sua participação no show de lançamento da operadora de telefonia móvel Oi no Estado de São Paulo, quando abriu para Frejat e Lulu Santos no palco de Bauru, e apresentação no projeto Sonoridade Máxima (organizado pelo Centro Cultural SP e dedicado às novas bandas).

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SERVIÇO:
Show das bandas Strange Music, bonequinh0+< style="font-weight: bold;">Splash Rock Bar
– Rua Padre Ildefonso, 64, Santana (ao lado da estação Tietê do metrô)
60 lugares - Não aceita cartões de crédito ou débito
ENTRADA GRATUITA
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Sobre a Strange Music
Formada em 2006, a Strange Music faz uma mistura de rock alternativo dançante, lounge e soul, usando guitarras e bases eletrônicas. Criada pelos amigos Bruno Guerra (guitarra/voz/programações) e Diego Bravo (guitarra/programações/outros), a banda também conta hoje com a participação de Juliano Domingues (guitarra/vocais). Residente em São Paulo, o trio já lançou, de forma independente os discos For Ordinary People (2006) e Moonrise (2007), e se apresentou em locais como o Centro Cultural São Paulo, Túnel do Tempo e Bar Brahma. O som da Strange Music pode ser conferido gratuitamente no site www.myspace.com/musicaestranha. Interessados em saber mais sobre a banda podem visitar o endereço www.strangemusic.zip.net.

21.10.09

Manual prático do niilismo para o self-made man


Che-Mickey: a fagulha da revolta está à venda, e não custa caro

Perdoem-me os incautos, mas o sabor da noite é de niilismo, nicotina e água mineral.

E, enquanto a verborragia loquaz e cheia de dentes do empregador transborda no discurso apaixonado do empregado subserviente, a revolução armada de Che Guevara já não serve mais. Ao menos para nós, a classe média horrorizada e farta "de tanta violência", "tanta miséria", "tanta corrupção" e "tamanha exploração". Não, a fagulha da revolta tem preço. E um tanto menor que imaginávamos.

Afinal, nem mesmo nós, senhores absolutos de pequenos feudos - maravilhosos e desimportantes - podemos vencer a lógica inexorável dele: das kapital. A mudança permanece aprisionada. Pelo menos enquanto acreditarmos - como a empregada doméstica explorada durante o ano inteiro, mas que durante uma noite reina absoluta na passarela do samba (assista a Cronicamente Inviável de Sergio Bianchi) - que é possível ocupar um lugar melhor na cadeia alimentar da Era da Informação. Um lugar acima de outrém.

O conforto do status quo - meio assim, nem muito em cima, nem muito embaixo - dá tempo pra se preocupar em "ser melhor", ou evitar que as coisas ("pelo menos para mim") fiquem piores.
Torna o rebelado um conformista. O ateu, um crente. O esquerdista, um centrista. E o direitista, um afortunado. Até que a vida passe. A Nêmesis da classe média é sua desastrosa busca pelo sucesso do indivíduo - personificada pelo self-made man -, que faz o sujeito querer crescer sozinho, a qualquer preço, e se incomodar por demais com quem não acompanhe essa ascensão.

Mas não importa. Afinal, temos ar condicionado, carro do ano, TV a cabo, uma roupa bonita pra quando quisermos sair. Somos abençoados com a exploração honesta de um emprego que nos cala diante da posibilidade de perdê-lo. Tivemos oportunidades na vida, coisa que muita gente não tem. Nos é reservado o direito de enclausurar nossos ideais em livros que nunca leremos e camisetas que estampam o rosto messiânico de nossos (desconhecidos) heróis.

E, mais importante de tudo: podemos subir na vida.

6.10.09

O caráter “libertário” de uma cinta-liga (?)



Feminista em manifestação nos anos 1960: mostrar o corpo não tem nada de novo

Há pouco mais de uma semana entrevistei Anne Becker (20 anos, estudante de moda, e uma das musas [in]voluntárias do movimento #lingerieday¹), que, com seu arquétipo digital no Twitter – @annebecker –, atraiu a atenção de homens e mulheres (uns 2 mil pra ser um tanto preciso) ao expor corpo e ideias nas chamadas “mídias sociais”. Veementemente criticado pela iniciativa, cedi o espaço aqui configurado a uma ilustre representante do “segundo sexo” (na definição grave de Simone de Beauvoir) – uma mulher, jornalista e pesquisadora das questões de gênero – que julgou a publicação do post uma atitude dessas que reiteram a “posição de inferioridade” feminina na sociedade.

Em minha defesa (e não que eu ache necessário fazê-la), a entrevista, como o título já adiantava, buscava compreender como a Internet radicalizou as possibilidades de romper a barreira do anonimato (ou esculhambar esse conceito tão relativo), seja postando fotos provocantes, seja atacando a esquerda ou a direta, ou ainda produzindo conteúdo sobre qualquer coisa que seja. Claro, não sou hipócrita. Entrevistar uma “musa” da rede vai, invariavelmente, atrair a atenção dos incautos. Ainda mais se ela for @annebecker. E estiver “seminua”. Don’t hate the player, hate the game.

Ademais, o espaço está aberto. E o diálogo é pertinente. Sempre.

¹ Coordenado por Gravataí Merengue – @gravz –, entre outros, o movimento convidava mulheres a colocar em seus perfis do Twitter – no dia  29/07 (supostamente o Dia Internacional da Lingerie) – fotos em que estivessem vestindo lingerie.



Sobre lingeries e submissão – a urgência da condição
feminina segundo uma (outra) mulher
por Talita Zanetti, jornalista e especialista nas 
questões de gênero ligadas ao feminino



“É preciso examinar o arquétipo da mulher moderna. Mulher emancipada, é certo, mas cuja emancipação não atenuou as duas funções, sedutora e doméstica, da mulher burguesa”. Edgar Morin

Toda a discussão começou na manhã de terça-feira passada, 29 de setembro, quando o Bruno anunciou a entrevista com Anne Becker para o Cotidiano Gonzo. Minha reação foi: “Por que você fez isso?” A reposta: “Para conseguir uma maior exposição do meu blog”. Fiquei estarrecida com a resposta. Como assim, em um meio que se pretende “a nova fronteira da comunicação”, as chamadas mídias sociais, é necessário utilizar a mais simples e primária estratégia de marketing, a exposição de uma mulher seminua, para conseguir visibilidade? Desanimador. Mais do mesmo. Bom, esse foi um ponto da discussão que tratou da comunicação em si, os meios e as mensagens, mas que não é o objetivo do presente post. (Alguém se propõe?) 

O ponto mais explorado na polêmica gerada pela entrevista foi a questão do gênero. Também é desanimador ver que muitas mulheres continuam corroborando com atitudes que reiteram nossa posição de inferioridade na sociedade. Se alguém tiver alguma dívida de que as mulheres continuam sendo o que Simone de Beauvoir chamou de ‘segundo sexo’, seguem dados ilustrativos: a RAIS - Relação Anual de Informações Sociais do Ministério do Trabalho e Emprego de 2008 constatou que a proporção dos salários médios das mulheres, quando comparados aos dos homens, ficou em 82,8%. Mostrou, ainda, que se tal diferença for restringida a profissionais com nível superior completo, a diferença salarial é ainda mais expressiva: as mulheres têm salários médios que correspondem a 56,5% dos salários dos homens. Para falar em jornalistas especificamente (grande parte do público deste blog), o último levantamento é datado de 2004, e constata que as profissionais do sexo feminino ganhavam cerca de 78,77% dos salários dos profissionais do sexo masculino.

A leitura superficial desse tipo de comportamento ou posicionamento pode levar a considerações, já expressas neste blog, do tipo: “que atitude corajosa, libertária, a menina não tem medo de falar sobre sexo, de expor a sexualidade”. Este, inclusive, é o ponto mais interessante da entrevista da garota, quanto esta tenta se defender de posturas conservadoras ou discriminatórias: Ah sim, muita gente me chama de puta, vaca, tem gente que acha que eu sou só a foto mesmo e porque eu falo de sexo eu sou uma imbecil sem nada na cabeça, mas eu sinceramente não ligo. Alias, falando mais sobre as pessoas que têm essa atitude negativa quanto a mim (ou qualquer pessoa com mais "liberdade"), eu acho é que na verdade é muito dificil pra maioria das pessoas conceber o fato de que sexualidade não é uma coisa "feia". Tem muita gente que acha que tem que ter extremo pudor ao falar sobre isso, como se fosse errado. 

Concordo com a parte em que ela fala da dificuldade das pessoas falarem sobre sexo, como se fosse uma coisa errada. Conheço as pessoas e sei como nossa sociedade é conservadora e hipócrita. Longe de mim defender a repressão a qualquer tipo de atitude em favor da liberdade. Porém, a critica se coloca no fato de que a exposição do corpo feminino não tem nada de libertária como quer nossa querida Anne Becker, quanto se apresenta como pessoa com mais "liberdade". A exposição do corpo feminino como uma demonstração de vanguardismo, com um quê revolucionário, foi um artifício utilizado pelas mulheres feministas já nas décadas de 1960 e 1970, e foram manifestações inseridas em um contexto histórico muito diferente do nosso. Ou seja, a exposição do corpo feminino não é nenhuma novidade.

Acredito que falta a percepção de que a banalização do corpo feminino corrobora com o machismo reinante na nossa sociedade na medida em que representa a desvalorização da mulher e sua submissão aos estereótipos de beleza, moda e sedução que nos escravizam em todos os tempos (aliás, um dos grandes símbolos da revolução feminista foi a queima de sutiãs, o que também questiona o caráter “libertário” de uma cinta-liga). 

Bom, meus caros e caras, minha intenção aqui não é atacar ninguém, quero apenas apresentar meu ponto de vista e incitar uma discussão um pouco mais aprofundada sobre uma das questões que considero mais urgentes na nossa sociedade: a condição feminina.