22.11.09

O fórum que não estava lá


Fórum Digital da Cultura Brasileira: cadê a sociedade, negra ou branca?

Sexta-feira. Dia 20 de novembro de 2009. Cinemateca Brasileira, cidade de São Paulo. Dia da Consciência Negra, e o que mais me espantou não foi o escasso número de negros na plateia das atrações musicais na tenda do Fórum Digital da Cultura Brasileira (embora isso tenha me deixado puto sobremaneira). Não, o mais digno de nota foi a pouca presença no geral. Minha observação encontrou razão de ser nas palavras de um conhecido que (infelizmente) tinha alguma relação com a organização do evento. "Não divulgaram pra não encher, mesmo", foi a justificativa.

O argumento não valia apenas para o espaço musical, mas para o fórum em si, que pretendia
"consolidar os debates e propostas produzidos até o momento sobre as novas tecnologias digitais" além de ser "um processo permanente de discussão sobre os impactos das novas tecnologias na transformação da cultura e da democracia no país, reunindo agentes governamentais e da sociedade civil em uma rede social pública e livre. De forma horizontalizada, os participantes apontam diretrizes para formulação de políticas públicas de cultura digital". Tudo isso de acordo com o texto de divulgação oficial, publicado no site do MinC (um dos poucos lugares onde o encontro foi divulgado). O mesmo release (dá pra chamar assim?) afirmava que o fórum seria "aberto e gratuito. Para participar, é necessário fazer cadastramento na entrada da Cinemateca sujeito à lotação das salas. Os integrantes da rede culturadigital.br terão prioridade no acesso, por isso a organização recomenda o cadastramento prévio".

Porra, não foi isso que eu vi. Posso estar errado, mas, acho que pouquíssima gente sabia da existência do fórum e até mesmo de sua rede social, lançada em meados deste ano. Pelo que pude observar, adesão da sociedade foi o que menos rolou, ficou restrita a "meia dúzia de ONGs". Como não participei das discussões de fato - fui chamado, naturalmente, só para o oba oba -, não posso versar muito a respeito. No entanto, posso falar que lá ouvi boatos (e deixo claro aqui que não os estou tomando como verdade) de que o evento teria custado algo em torno de R$ 500 mil. E que uma bala teria sido gasta para trazer participantes (e seus amigos) do Rio de Janeiro para São Paulo, de avião, com direito a hospedagem e van para levar e trazer de onde quer que fosse. Disseram-me também que os cartazes que seriam usados na suposta divulgação teriam chegado apenas naquele mesmo dia (o evento começou em 18/11).

E tudo acabou em samba


Orquestra de Tambores de Aço: no palco, um "Salve, Zumbi". Fora dele...

As atrações musicais (motivo pelo qual eu estava lá, já que nem sabia da existência do Fórum - achei que eram shows em comemoração ao 20 de novembro) foram um capítulo à parte. A programação que me foi passada como "umas apresentações em um evento ligado a cultura digital, na faixa" incluia a formação recente da Banda Black Rio e Mano Brown, líder dos Racionais MC's.

Programadas para começar às 18h00, as apresentações atrasaram. O lance todo começou bem depois das 19h00, com a Orquestra de Tambores de Aço (steelpan) da Casa de Cultura Tainã. Só soube que o grupo - musicalmente excelente, por sinal, repleto de crianças que apavoraram nos pans - estava mesmo previsto para tocar quando finalmente consegui arranjar o programa do evento (abaixo).



Nessa lida, descobri que Macaco Bong já havia subido no palco dias antes, e que a participação de Brown naquele dia era "(a confirmar)". Descobri logo que a aparição do "francoatirador" deveria estar mais do que fechada, já que o senador Eduardo Suplicy (fã confesso dos Racionais) circulava já no início da apresentação da Black Rio. Pensei em entrevistá-lo, mas preferi não incomodar. Além do que, eu corria um risco muito grande de perder o resto da noite nessa tarefa.


Banda Black Rio: da formação original só restou o filho do Oberdan (teclado)


Senador Suplicy curte um som: cadê o Brown?

A adesão já aumentava um tanto, visto que os debates haviam acabado há tempos. No entanto, já vi o Neu Club mais cheio em dias fracos. A barraquinha que vendia cervejas mais ou menos geladas por 3 pratas colhia os frutos da falta de concorrência. Vi algumas garrafas de Chandon desfilando em baldes de gelo, mas logo descobri que não eram pro meu bico.


Cai a noite no fórum: 3 pratas pra ver a banda passar com uma cerveja na cabeça

Quando Brown apareceu, vestindo uma camisa polo da Nike, houve um quase-surto. Todo mundo colou na beira do palco para ver o rapper esbravejar (menos) e brincar (mais) junto com a Black Rio e seus compas, sempre, sempre presentes. Estranhei o bom humor de Brown, provavelmente por estar acostumado a vê-lo em situações bem mais tensas. Nesse contexto, "Vida Loka II" (uma das músicas mais lancinantes e ácidas dos Racionais) me pareceu meio flácida e sem sentido. O volume baixo dos microfones também não ajudou.


Mano Brown: vida loka?

Aquela noite do fórum acabou com um pout-pourri de sambas e sambas-rock famosos executado à perfeição pela Black Rio. "Meio que como tudo no Brasil", não pude deixar de pensar.


Peça que adornava o gramado da Cinemateca: podia estar escrito "incoerência"

*Colaborou Talita Zanetti

18.11.09

Na trilha de Caê?


Marcelo Caê, ops, Camelo, e Mallu Magalhães: chilique justificado?

É duro. Quando a decepção com uma personalidade que você admira bate, é difícil desfazer a má impressão. E recentemente tive a oportunidade de adicionar Marcelo Camelo à minha extensa lista de birras. No entanto, preferi não fazê-lo, depois de refletir um tantinho sobre a (muitas vezes) inglória condição - não vou chamar de profissão - de artista.

Bom, primeiro os fatos, depois a lenga-lenga. O assunto é velho, mas não vi muito eco em quase lugar nenhum, a não ser no blog do editor do bom e velho Scream & Yell. Eis que, certa feita, eu estava na festa de 3 anos da versão brasileira de uma renomada revista de cultura pop. Além de um amontoado de celebridades 'B' ou 'C' (eu nem sabia que havia um ranking desse até então), a programação da noite incluia shows do Macaco Bong e da duplinha Camelo e Mallu Magalhães. Rumores davam conta de que eles haviam preparado um setlist especial para o evento. O Hurtmold estava quase todo lá, como banda de apoio, que ainda contava com o reforço do trompetista gringo Rob Mazurek.

Ok. Alright. Quando a apresentação do barbado e da moça começou, já dava pra notar um certo desconforto no semblante de ambos. Camelo, que parecia ter trezentos anos escondido atrás da barba espessa e do olhar perdido, até se empolgou em alguns momentos: fez dancinhas, bateu com a cabeça de leve no braço de Mallu, entre outros gracejos. Já Magalhães, visivelmente mais moça (deve estar com uns 17 a essa altura), parecia confusa e vacilante. Reclamou umas duas vezes do retorno (que estaria baixo demais) e cantou o tempo todo com um fiapo de voz.

A certa altura, o lance todo começou a degringolar. Camelo encarnou Caetano e deu um pito no público, que conversava mais alto do que a banda tocava. O post de Marcelo Costa, do S&Y, me ajuda a relembrar a cena: "
Ela [Mallu] largou a gravação do disco novo, eu deixei minhas coisas, passamos a semana ensaiando e eu sei que tem cerveja de graça, que é hora de comemorar, mas seria legal vocês prestarem atenção", disse o ex-Los Hermanos, claramente bronqueado.

Eu estava no gargarejo, bem como uma meia dúzia de órfãos dos criadores do Ventura. Juntos, numa comunhão algo bizarra, tentávamos mostrar que havia, sim, gente querendo ver/ouvir o show. Mas foi em vão. No comecinho de "Janta", hit do casal, Camelo largou o violão e ficou só sussurrando a letra. Senti como se estivesse na escola, tipo bronca de professor que quer te fazer sentir culpado. Na sequência, mais um hit - "Morena" -, outras reclamações, e o artista resolve acabar com o show. Mais uma vez me aproprio de Marcelo Costa: "Essa é a última. Tínhamos mais coisas, mas não dá. Está realmente atrapalhando". Mallu "viu mas não disse nada", no jargão dos bons entendedores.

Confesso. Foi difícil. Imediatamente após o lance todo eu queria colocar o Camelo na prateleira a que pertence esse aqui:



Mas resisti. Xingar o Camelo é fácil. Difícil é tocar pra um bando de pessoas desinteressadas (situação pela qual passei tantas vezes). O ideal, eu sei, é sempre optar pelo bom senso. Julgar equivocada a atitude do músico, que topou tocar sabendo das condições do evento, mas resolveu dar um "chiliquinho" na hora H, e também da organização da festa, que, sabendo da fama de maleta do rapaz (vide a infinidade de vídeos que mostram Camelo, Amarante e outros dos Hermanos debulhando repórteres inocentes e despreparados), o convidou pra tocar em um lugar algo inapropriado pra atenção que o dito cujo demandava.

Só que esse é o ideal. E como já vivi na pele a ditadura d'o que o público [supostamente] gosta, d'o que o público [supostamente] quer, guardei Camelo de volta na prateleira que ele merece.

Essa aqui:


16.11.09

Rock cinematográfico no Na Mata Café


Projeto Curta com Banda reúne show da Strange Music, exibição do filme “Na Base”, de Daniel Tupinambá, e apresentação da cantora Claudia Albuquerque. Entrada gratuita até 21h30

A programação para a noite de terça-feira (24/11) do Na Mata Café dará espaço ao que há de novo no cinema e música paulistana. Além da apresentação do curta-metragem Na Base, e da cantora Claudia Albuquerque, a banda Strange Music levará ao palco músicas inéditas que entrarão no seu terceiro disco, Música Estranha, ainda em gravação. O trio experimental funde eletrônico, rock, lounge em músicas que se assemelham a uma trilha sonora.

Do diretor Daniel Tupinambá, o filme Na Base, que dará inicio às atrações da noite, mostra o desgaste, tensões, erros e acertos de um skatista em dia de campeonato. Logo após a exibição do curta, haverá apresentação da cantora e pianista Claudia Albuquerque (com estréia do clipe In Your Arms - música tema de novela do SBT). A Strange Music toca a partir das 00h00. O encerramento fica por conta da discotecagem do DJ Robi.

“Nós achamos interessante o projeto pela proposta de unir estas duas áreas da arte. Até porque a nossa música tem um forte apelo instrumental e é comum as pessoas que acompanham o nosso trabalho dizerem que o nosso som se assemelha à música de cinema. Então acho que estaremos no local certo”, diz Juliano Domingues, guitarrista da Strange Music.

A banda começou a ter destaque a partir do final de 2008 e primeiro semestre de 2009, principalmente após sua participação no show de lançamento da operadora de telefonia móvel Oi no Estado de São Paulo, quando abriu para Frejat e Lulu Santos no palco de Bauru, e apresentação no projeto Sonoridade Máxima (organizado pelo Centro Cultural SP e dedicado às novas bandas).

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Serviço

Onde: Na Mata Café. R. Da Mata, 70 – Itaim Bibi. Tel: (11) 3079-0333
Quando: Terça-feira, 24 de Novembro, a partir das 20h00
Quanto: Até as 21h30 não paga para entrar, após este horário R$20 com nome na lista (namata@namata.com.br), sem nome na lista R$25

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Sobre a Strange Music

Formada em 2006, a Strange Music faz uma mistura de rock alternativo dançante, lounge e soul, usando guitarras e bases eletrônicas. Criada pelos amigos Bruno Guerra (guitarra/voz/programações) e Diego Bravo (guitarra/programações/outros), a banda também conta hoje com a participação de Juliano Domingues (guitarra/vocais). Residente em São Paulo, o trio já lançou, de forma independente os discos For Ordinary People (2006) e Moonrise (2007), e se apresentou em locais como o Centro Cultural São Paulo, Túnel do Tempo e Bar Brahma. O som da Strange Music pode ser conferido gratuitamente no site www.myspace.com/musicaestranha.

Mais informações: Diego Bravo - projetostrangemusic@gmail.com – (11) 8923-3831, Juliano Domingues (11) 9142 9132

10.11.09

Isso sim é capa!


Alinne Moraes na capa da Rolling Stone: que pintura, não?

Depois de umas escolhas um tanto "flácidas" para suas capas, a Rolling Stone Brasil "quebrou a banca". Alinne Moraes. De um jeito que ninguém nunca viu (em público, pelo menos). Confesso que nem consegui ler nenhuma das chamadas.

Mais sobre o ensaio aqui.

8.11.09

Macacos (do Ártico) me mordam!


Arctic Monkeys: os quatro moleques de Sheffield cresceram

Não é sempre que uma banda que você no máximo odeia e no mínimo não gosta surpreende desse tanto. Confesso que - até agora - nunca tinha escutado um disco do Arctic Monkeys do começo ao fim. Quando os vi ao vivo - no infame Tim Festival 2007 - eu estava sentado no chão, deveras desinteressado, me recuperando do show da Björk. Bem, agora tive que dar o braço a torcer.

A pulga se instalou atrás da orelha quando soube que quem tinha produzido Humbug, terceiro disco do quarteto, era Josh Homme, a cabeça por trás do Queens of the Stone Age. Depois que vi o vídeo da banda tocando Pretty Visitors ao vivo na MTV inglesa (abaixo), tive que gastar alguns dias procurando o álbum pra baixar.



A evolução dos moleques de Sheffield (UK) é impressionante. De petardos adolescentes como I Bet You Look Good on the Dancefloor, a canções com estrutura mais intrincada e psicodelia pesada, como a nova Fire and the Thud (abaixo) e a já citada Pretty Visitors. E tudo isso em pouco mais de três anos.



A música que me ganhou foi mesmo a segunda faixa de Humbug, Crying and Lightning (abaixo). A influência de Homme fica clara aqui, nos riffs meio stoner, nos solos setentistas e nas viradas psicóticas de bateria. Além do que, a cadência vocal de Alex Turner finalmente vale a pena, e as letras vão mais longe que "fiquei bêbado a noite passada e blábláblá...".



O disco tem até espaço pra uma baladinha singela que foi um verdadeiro soco no estômago. Cornerstone (abaixo) é um exemplo de como a poesia de Turner melhorou. "She was close / close enough to be your ghost / but my chances turned to toast when I asked her / if I could call her your name".



Enfim... Humbug pode não agradar aos fãs hardcore dos Monkeys. Eu não dou a mínima. Pra mim é como se fosse o primeiro trabalho deles. E que venham outros. Pra nos brindar com pérolas como essa: