Fórum Digital da Cultura Brasileira: cadê a sociedade, negra ou branca?
Sexta-feira. Dia 20 de novembro de 2009. Cinemateca Brasileira, cidade de São Paulo. Dia da Consciência Negra, e o que mais me espantou não foi o escasso número de negros na plateia das atrações musicais na tenda do Fórum Digital da Cultura Brasileira (embora isso tenha me deixado puto sobremaneira). Não, o mais digno de nota foi a pouca presença no geral. Minha observação encontrou razão de ser nas palavras de um conhecido que (infelizmente) tinha alguma relação com a organização do evento. "Não divulgaram pra não encher, mesmo", foi a justificativa.
O argumento não valia apenas para o espaço musical, mas para o fórum em si, que pretendia "consolidar os debates e propostas produzidos até o momento sobre as novas tecnologias digitais" além de ser "um processo permanente de discussão sobre os impactos das novas tecnologias na transformação da cultura e da democracia no país, reunindo agentes governamentais e da sociedade civil em uma rede social pública e livre. De forma horizontalizada, os participantes apontam diretrizes para formulação de políticas públicas de cultura digital". Tudo isso de acordo com o texto de divulgação oficial, publicado no site do MinC (um dos poucos lugares onde o encontro foi divulgado). O mesmo release (dá pra chamar assim?) afirmava que o fórum seria "aberto e gratuito. Para participar, é necessário fazer cadastramento na entrada da Cinemateca sujeito à lotação das salas. Os integrantes da rede culturadigital.br terão prioridade no acesso, por isso a organização recomenda o cadastramento prévio".
Porra, não foi isso que eu vi. Posso estar errado, mas, acho que pouquíssima gente sabia da existência do fórum e até mesmo de sua rede social, lançada em meados deste ano. Pelo que pude observar, adesão da sociedade foi o que menos rolou, ficou restrita a "meia dúzia de ONGs". Como não participei das discussões de fato - fui chamado, naturalmente, só para o oba oba -, não posso versar muito a respeito. No entanto, posso falar que lá ouvi boatos (e deixo claro aqui que não os estou tomando como verdade) de que o evento teria custado algo em torno de R$ 500 mil. E que uma bala teria sido gasta para trazer participantes (e seus amigos) do Rio de Janeiro para São Paulo, de avião, com direito a hospedagem e van para levar e trazer de onde quer que fosse. Disseram-me também que os cartazes que seriam usados na suposta divulgação teriam chegado apenas naquele mesmo dia (o evento começou em 18/11).
E tudo acabou em samba
Orquestra de Tambores de Aço: no palco, um "Salve, Zumbi". Fora dele...
Aquela noite do fórum acabou com um pout-pourri de sambas e sambas-rock famosos executado à perfeição pela Black Rio. "Meio que como tudo no Brasil", não pude deixar de pensar.
Peça que adornava o gramado da Cinemateca: podia estar escrito "incoerência"
*Colaborou Talita Zanetti
O argumento não valia apenas para o espaço musical, mas para o fórum em si, que pretendia "consolidar os debates e propostas produzidos até o momento sobre as novas tecnologias digitais" além de ser "um processo permanente de discussão sobre os impactos das novas tecnologias na transformação da cultura e da democracia no país, reunindo agentes governamentais e da sociedade civil em uma rede social pública e livre. De forma horizontalizada, os participantes apontam diretrizes para formulação de políticas públicas de cultura digital". Tudo isso de acordo com o texto de divulgação oficial, publicado no site do MinC (um dos poucos lugares onde o encontro foi divulgado). O mesmo release (dá pra chamar assim?) afirmava que o fórum seria "aberto e gratuito. Para participar, é necessário fazer cadastramento na entrada da Cinemateca sujeito à lotação das salas. Os integrantes da rede culturadigital.br terão prioridade no acesso, por isso a organização recomenda o cadastramento prévio".
Porra, não foi isso que eu vi. Posso estar errado, mas, acho que pouquíssima gente sabia da existência do fórum e até mesmo de sua rede social, lançada em meados deste ano. Pelo que pude observar, adesão da sociedade foi o que menos rolou, ficou restrita a "meia dúzia de ONGs". Como não participei das discussões de fato - fui chamado, naturalmente, só para o oba oba -, não posso versar muito a respeito. No entanto, posso falar que lá ouvi boatos (e deixo claro aqui que não os estou tomando como verdade) de que o evento teria custado algo em torno de R$ 500 mil. E que uma bala teria sido gasta para trazer participantes (e seus amigos) do Rio de Janeiro para São Paulo, de avião, com direito a hospedagem e van para levar e trazer de onde quer que fosse. Disseram-me também que os cartazes que seriam usados na suposta divulgação teriam chegado apenas naquele mesmo dia (o evento começou em 18/11).
E tudo acabou em samba
Orquestra de Tambores de Aço: no palco, um "Salve, Zumbi". Fora dele...
As atrações musicais (motivo pelo qual eu estava lá, já que nem sabia da existência do Fórum - achei que eram shows em comemoração ao 20 de novembro) foram um capítulo à parte. A programação que me foi passada como "umas apresentações em um evento ligado a cultura digital, na faixa" incluia a formação recente da Banda Black Rio e Mano Brown, líder dos Racionais MC's.
Programadas para começar às 18h00, as apresentações atrasaram. O lance todo começou bem depois das 19h00, com a Orquestra de Tambores de Aço (steelpan) da Casa de Cultura Tainã. Só soube que o grupo - musicalmente excelente, por sinal, repleto de crianças que apavoraram nos pans - estava mesmo previsto para tocar quando finalmente consegui arranjar o programa do evento (abaixo).
Nessa lida, descobri que Macaco Bong já havia subido no palco dias antes, e que a participação de Brown naquele dia era "(a confirmar)". Descobri logo que a aparição do "francoatirador" deveria estar mais do que fechada, já que o senador Eduardo Suplicy (fã confesso dos Racionais) circulava já no início da apresentação da Black Rio. Pensei em entrevistá-lo, mas preferi não incomodar. Além do que, eu corria um risco muito grande de perder o resto da noite nessa tarefa.
Banda Black Rio: da formação original só restou o filho do Oberdan (teclado)
Senador Suplicy curte um som: cadê o Brown?Programadas para começar às 18h00, as apresentações atrasaram. O lance todo começou bem depois das 19h00, com a Orquestra de Tambores de Aço (steelpan) da Casa de Cultura Tainã. Só soube que o grupo - musicalmente excelente, por sinal, repleto de crianças que apavoraram nos pans - estava mesmo previsto para tocar quando finalmente consegui arranjar o programa do evento (abaixo).
Nessa lida, descobri que Macaco Bong já havia subido no palco dias antes, e que a participação de Brown naquele dia era "(a confirmar)". Descobri logo que a aparição do "francoatirador" deveria estar mais do que fechada, já que o senador Eduardo Suplicy (fã confesso dos Racionais) circulava já no início da apresentação da Black Rio. Pensei em entrevistá-lo, mas preferi não incomodar. Além do que, eu corria um risco muito grande de perder o resto da noite nessa tarefa.
Banda Black Rio: da formação original só restou o filho do Oberdan (teclado)
A adesão já aumentava um tanto, visto que os debates haviam acabado há tempos. No entanto, já vi o Neu Club mais cheio em dias fracos. A barraquinha que vendia cervejas mais ou menos geladas por 3 pratas colhia os frutos da falta de concorrência. Vi algumas garrafas de Chandon desfilando em baldes de gelo, mas logo descobri que não eram pro meu bico.
Cai a noite no fórum: 3 pratas pra ver a banda passar com uma cerveja na cabeça
Quando Brown apareceu, vestindo uma camisa polo da Nike, houve um quase-surto. Todo mundo colou na beira do palco para ver o rapper esbravejar (menos) e brincar (mais) junto com a Black Rio e seus compas, sempre, sempre presentes. Estranhei o bom humor de Brown, provavelmente por estar acostumado a vê-lo em situações bem mais tensas. Nesse contexto, "Vida Loka II" (uma das músicas mais lancinantes e ácidas dos Racionais) me pareceu meio flácida e sem sentido. O volume baixo dos microfones também não ajudou.
Mano Brown: vida loka?Cai a noite no fórum: 3 pratas pra ver a banda passar com uma cerveja na cabeça
Quando Brown apareceu, vestindo uma camisa polo da Nike, houve um quase-surto. Todo mundo colou na beira do palco para ver o rapper esbravejar (menos) e brincar (mais) junto com a Black Rio e seus compas, sempre, sempre presentes. Estranhei o bom humor de Brown, provavelmente por estar acostumado a vê-lo em situações bem mais tensas. Nesse contexto, "Vida Loka II" (uma das músicas mais lancinantes e ácidas dos Racionais) me pareceu meio flácida e sem sentido. O volume baixo dos microfones também não ajudou.
Aquela noite do fórum acabou com um pout-pourri de sambas e sambas-rock famosos executado à perfeição pela Black Rio. "Meio que como tudo no Brasil", não pude deixar de pensar.
Peça que adornava o gramado da Cinemateca: podia estar escrito "incoerência"
*Colaborou Talita Zanetti
3 comentários:
Antes de a "Consciência Negra" virar feriado - e meu deus, como isso é típico de Brasil, "feriadar" nossa mestiçagem para dar importância a ela -, tive a oportunidade de participar de eventos relacionados ao que é chamado Agosto Negro (movimento de origem norte-americana). E vi (meninos, eu vi!) ali no Sesc Pompéia mesmo, Afrika Bambaataa, Z'África Brasil, e muito hip hop e boa discussão sobre preconceito, mobilização, transformação social etc, etc. Esse evento aí mal-ajambrado tem a maior cara de ser queima de buget de fim de ano: vamos passear, levar a família, discutir o impacto das redes sociais. "Mas e o feriado? Vai esvaziar o evento! - Imagina, o importante é que bancamos algum espaço para discussão". Moral da história (como bem você pontuou): cerveja para muitos, Chandon para alguns.
Na quebrada da Vila Mariana, assistindo ao show do Mano Brown, junto com o Mano Suplicy. Essa foi a minha impressão sobre o evento. Badabauê!
Divulgação zero mesmo! Adoro esse tipo de evento e nem fiquei sabendo.
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