18.11.09

Na trilha de Caê?


Marcelo Caê, ops, Camelo, e Mallu Magalhães: chilique justificado?

É duro. Quando a decepção com uma personalidade que você admira bate, é difícil desfazer a má impressão. E recentemente tive a oportunidade de adicionar Marcelo Camelo à minha extensa lista de birras. No entanto, preferi não fazê-lo, depois de refletir um tantinho sobre a (muitas vezes) inglória condição - não vou chamar de profissão - de artista.

Bom, primeiro os fatos, depois a lenga-lenga. O assunto é velho, mas não vi muito eco em quase lugar nenhum, a não ser no blog do editor do bom e velho Scream & Yell. Eis que, certa feita, eu estava na festa de 3 anos da versão brasileira de uma renomada revista de cultura pop. Além de um amontoado de celebridades 'B' ou 'C' (eu nem sabia que havia um ranking desse até então), a programação da noite incluia shows do Macaco Bong e da duplinha Camelo e Mallu Magalhães. Rumores davam conta de que eles haviam preparado um setlist especial para o evento. O Hurtmold estava quase todo lá, como banda de apoio, que ainda contava com o reforço do trompetista gringo Rob Mazurek.

Ok. Alright. Quando a apresentação do barbado e da moça começou, já dava pra notar um certo desconforto no semblante de ambos. Camelo, que parecia ter trezentos anos escondido atrás da barba espessa e do olhar perdido, até se empolgou em alguns momentos: fez dancinhas, bateu com a cabeça de leve no braço de Mallu, entre outros gracejos. Já Magalhães, visivelmente mais moça (deve estar com uns 17 a essa altura), parecia confusa e vacilante. Reclamou umas duas vezes do retorno (que estaria baixo demais) e cantou o tempo todo com um fiapo de voz.

A certa altura, o lance todo começou a degringolar. Camelo encarnou Caetano e deu um pito no público, que conversava mais alto do que a banda tocava. O post de Marcelo Costa, do S&Y, me ajuda a relembrar a cena: "
Ela [Mallu] largou a gravação do disco novo, eu deixei minhas coisas, passamos a semana ensaiando e eu sei que tem cerveja de graça, que é hora de comemorar, mas seria legal vocês prestarem atenção", disse o ex-Los Hermanos, claramente bronqueado.

Eu estava no gargarejo, bem como uma meia dúzia de órfãos dos criadores do Ventura. Juntos, numa comunhão algo bizarra, tentávamos mostrar que havia, sim, gente querendo ver/ouvir o show. Mas foi em vão. No comecinho de "Janta", hit do casal, Camelo largou o violão e ficou só sussurrando a letra. Senti como se estivesse na escola, tipo bronca de professor que quer te fazer sentir culpado. Na sequência, mais um hit - "Morena" -, outras reclamações, e o artista resolve acabar com o show. Mais uma vez me aproprio de Marcelo Costa: "Essa é a última. Tínhamos mais coisas, mas não dá. Está realmente atrapalhando". Mallu "viu mas não disse nada", no jargão dos bons entendedores.

Confesso. Foi difícil. Imediatamente após o lance todo eu queria colocar o Camelo na prateleira a que pertence esse aqui:



Mas resisti. Xingar o Camelo é fácil. Difícil é tocar pra um bando de pessoas desinteressadas (situação pela qual passei tantas vezes). O ideal, eu sei, é sempre optar pelo bom senso. Julgar equivocada a atitude do músico, que topou tocar sabendo das condições do evento, mas resolveu dar um "chiliquinho" na hora H, e também da organização da festa, que, sabendo da fama de maleta do rapaz (vide a infinidade de vídeos que mostram Camelo, Amarante e outros dos Hermanos debulhando repórteres inocentes e despreparados), o convidou pra tocar em um lugar algo inapropriado pra atenção que o dito cujo demandava.

Só que esse é o ideal. E como já vivi na pele a ditadura d'o que o público [supostamente] gosta, d'o que o público [supostamente] quer, guardei Camelo de volta na prateleira que ele merece.

Essa aqui:


4 comentários:

Anônimo disse...

Eu penso duas coisas:

1) Faltou bom senso por parte da revista em escolher os dois pra tocar numa "festa estranha com gente esquisita";

2) Faltou bom humor por parte do casal em perceber que, já que estavam numa "festa estranha com gente esquisita", era melhor desencanar e deixar rolar.

Mas deu pra entender uma coisa que muito me intrigou quando fui no show dele no Sesc: o público não se manifestava. Não batia palmas e não acompanhava a banda, o que me fez perguntar para minha grande amiga P. Basile "- Estamos num show na Alemanha?". Uma frieza estranha que só foi resolvida com a marchinha Copacabana (que eu acho muito da porcaria). Se esse é o tipo de público do Marcelo Caê, acho que foi esquisito mesmo um show numa "festa". Mas continuo gostando do cara, mesmo se ele desejar da plateia um grande e sonoro silêncio.

Batch3 disse...

ESSE CAMELO podia simplesmente enfiar o violão no rabo!

Bruno Guerra disse...

Duas observações muito pertinentes! Hehehe! Tks aos dois!

Fê, acredito que o Marcelo Caê não deseje o silêncio absoluto de sua platéia, mas, com certeza, vai avaliar melhor as propostas para showzinhos particulares daqui pra frente.

Isso, aliás, me lembrou uma história que ouvi não sei onde: parece que o Lobão (a outra face da moeda do Caê) teria chilicado em um casamento no qual tocava contratado pelos noivos. A galera só queria saber de "Me Chama" e outros hits desse naipe, e o cara só queria tocar coisas da sua fase mais "recente". Dizem que saiu na mão com o noivo ou um padrinho ou sei-lá-quem.

bonequinho / EXTINÇÃO DISCOS disse...

Poxa, se o Dr. Caê estivesse também in love com uma ninfetinha, ele acalmaria seus ânimos!
Brincadeira.
Vocês verão a serenidade do Camelo quando ele tirar a barba.
É sério...
Tem "ego artístico" que não entende contexto e não apreende diferentes públicos.
As famas instantâneas de hoje não garantem nenhuma posteridade louvável ou tão onipotente, haha!
Camelem mais, ídolos de barro do mundão poperô.
O dinheiro é de vocês, mas o "respeito e admiração" é dos olhos cegos que te viam e não te vêem mais.