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Tragamos demoradamente nossos cigarros. E esperamos os meteoros que desencadearão uma nova Era Glacial em nosso estilo de vida. |
[ego]
Nós, fumantes, somos uma espécie ameaçada de extinção.
Os preços não param de subir. As pessoas olham feio se você acende um cigarro. Os poucos fumantes que restam, quando se reconhecem como iguais, só faltam chorar. "Você pode me emprestar o isqueiro?", "Você FUMAAAAA?". E ficam ali, aglomerados, como leprosos felizes. Isolados da porção saudável da humanidade, é verdade, mas felizes.
Dias atrás eu tive o enorme prazer (#not) de viajar de ônibus. Tinha que embarcar no Terminal Barra Funda, em São Paulo. Man, não há lugar pior pra se estar após a lei anti-fumo. Terminais rodoviários e aeroportos em geral, na verdade. Veja bem: qualquer pessoa minimamente responsável vai chegar pelo menos 30 minutos antes do embarque no caso de ônibus, e uma hora or so no caso de um avião. E o que você faz enquanto espera que a viagem comece? Fuma! É, bem, não mais...
Para pitar, o cidadão (eu, no caso) tem que atravessar aquela enorme e malcheirosa estrutura de concreto (o terminal Barra Funda) e descer 18 lances de rampa até estar em algum lugar minimamente caracterizado como "rua". Na verdade, ainda é uma porção do terminal, a plataforma de ônibus urbanos - um pedaço descoberto dela, que faz divisa com os trilhos da CPTM. Lá, três ou quatro lost souls se empoleiram entre um monte de areia de construção e algumas pilhas de tijolos de concreto, prováveis restos de alguma obra minor.
Junto-me aos candangos, e parecemos leprosos felizes. Isolados da porção saudável da humanidade, é verdade, mas felizes. Tragamos demoradamente nossos cigarros. E esperamos os meteoros que desencadearão uma nova Era Glacial em nosso estilo de vida.