2.3.10

A morte da "exclusiva"?

A morte da exclusiva?
Exclusiva
. Do jargão jornalístico. Notícia - geralmente de impacto ou relevância - divulgada com exclusividade para algum veículo de comunicação, quase sempre da grande imprensa, garantindo o furo quase que em troca da publicação automática.



Outro dia vi a seguinte história se desenrolar: personalidade X da televisão aberta brasileira vai ser capa da próxima edição da revista Y, de circulação nacional. Profissional Z, que trabalha para a personalidade X, pouco depois da sessão de fotos, com a língua nos dentes e coloca a boa nova em seu perfil no Twitter. Em poucos minutos o caos se instaura. Os editores da revista Y ficam putos. Mais putos ainda ficam os assessores de imprensa da revista Y, afinal, a notícia - da qual ficaram sabendo justamente pelo microblog do profissional Z - renderia uma baita "exclusiva". Depois de algum corre-corre, revista Y e sua assessoria conseguem fazer com que o profissional Z retire a informação de seu perfil, convencendo-o de que, assim, a notícia teria mais impacto nas mídias convencionais (digitais ou não). Mais uma exclusiva salva da morte certa. Eu só fico me perguntando: até quando?

Recentemente, li no Webinsider um artigo sobre a aparente obsolecência dos press releases (comunicados de imprensa, textos de divulgação) frente à velocidade das mídias sociais. "
Uma pesquisa realizada em julho de 2009 pela agência de comunicação Burson-Marsteller comprova que uma notícia divulgada no Twitter demora cerca de uma hora para aparecer em uma publicação online e pelo menos duas horas para sair nas emissoras de rádio. A mesma reportagem pode levar mais de duas horas e meia para ser divulgada na TV, e oito horas para sair na mídia impressa", diz o texto.
"Assessorias de imprensa ainda não quebraram o paradigma de uma comunicação ultrapassada. Agora tudo é relações públicas", prega o artigo em seu resumo inicial. Olha... Em termos. Acho um tanto reducionista colocar as coisas desse jeito, afinal, uma coisa (ainda) é uma coisa, e outra coisa (ainda) é outra coisa... Mas isso é discussão pra uma outra oportunidade.

O fato - trazido à luz pela pesquisa supracitada - é que a velocidade e a capacidade de disseminação de informações trazidas por essas novas ferramentas (e é só isso que elas são, ferramentas) mudaram a forma com que lidamos com a notícia. Não há release que dê conta, em comparação. Ainda mais quando o profissional Z e outros tantos indivíduos começam, efetivamente, a fazer parte do processo de comunicar (que envolve uma série de trâmites pra lá de chatos e complicados - infelizmente - como aprovação do cliente, alterações de última hora, troca de fotos em resolução inadequada e etc.). Se um desses indivíduos estiver no meio do caminho entre uma exclusiva e o jornalista de redação que vai recebê-la, então...

Além desses complicadores - ou seriam descomplicadores - ainda tem o fato de que muita gente (ou empresas, órgãos públicos, políticos e por aí vai) optou por dar um belo cambau nessa agenda de compromissos com "o fluxo da notícia". Vide a comoção causada pelo Blog do Planalto (exemplo que ninguém aguenta mais) e a popularidade do Twitter da Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô).

Na última segunda-feira (01/03/10), o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) anunciou, via Twitter, que era pré-candidato ao Governo do Estado de São Paulo. De uma vez, mais de nove mil pessoas (seus seguidores no microblog) foram potencialmente atingidas pela notícia (e outras tantas em ondas e ondas de "retweets"). Nenhuma coluna deu antes. Ninguém tinha o furo. Não teve e-mail e follow pra acompanhar a exclusiva. Suplicy foi lá e "falou", ele mesmo, pra quem quisesse (e pudesse) "ouvir".
Twitter do senador Suplicy

Faço parte da (não "grande") imprensa brasileira, e com a experiência que tenho no ofício, consigo entender perfeitamente a preferência por esse canal direto com o público. Pra que enfiar um fato em um "cantinho de comadres preguiçosas", que é o que muitas dessas colunas sociais de jornal diário se tornaram? Agora você tem sua própria coluna, senador. (Ok, aqui vamos pular toda a discussão sobre "o papel de mediação do jornalista". Essa também vai ficar pra uma próxima)

O fato é: existem outras formas de fazer alguém tomar conhecimento de alguma coisa. E pra muitas delas não é preciso, mesmo, uma assessoria de imprensa, ou até os jornalistas do outro lado do balcão. O importante é que os outros saibam do fato que você está querendo divulgar? Ou é a moldura rococó que vão colocar em volta dela? Spread the word, then! Essa brincadeira de criança que são as mídias sociais cresceu. E as crianças cresceram junto com ela. O que vamos fazer com isso tudo agora?


O caso da MAD (ou Pra não dizerem que não defendi a "classe")
Capa 'censurada' da MAD

Com Twitter, Formspring, blog e blá, blá, blá, todo mundo virou "veículo". Já era assim com os fanzines, não sei se vocês lembram (e alguns deles conseguiram aproveitar bem a transição para o 2.0). O fato é que agora não é preciso gastar com cola, fotocópias e sola de tênis pra fazer meia dúzia de candangos ler o que você escreve. E, se alguns deles gostarem, é ainda mais fácil espalhar isso pra mais gente.

Bom, obviamente isso traz alguns "perigos" (não queria, mesmo, usar essa palavra aqui, mas...). Uma notícia mal apurada pode se transformar em uma manada de trolls gritando impropérios contra você, seu cliente, sua namorada ou quem quer que seja, em minutos.

E, não mais que de repente, na semana passada, os trolls limparam as gargantas e começaram a cantar. A versão brasileira da revista MAD, conhecida pelo deboche com que trata absolutamente TUDO, divulgou em seu blog (sorry, sem link, já enterraram com areia o que o gato fez) que sua última capa tinha uma versão censurada (veja a imagem acima).

Quem escreveu o post não deixou claro quem é que havia vetado a capa (que dizia, sem dizer, que Dilma Roussef é uma espécie de montaria Na'vi de Lula). Então, twitteiros "famosos" blogueiros e até mesmo alguns meios de comunicação se apressaram em acusar - é claro - o governo! Felizmente alguns cidadãos de bem se esforçaram em mostrar como o "burburinho" estava sendo irresponsável. Outros, desfizeram o equívoco. APURAÇÃO, folks! RESPONSABILIDADE. NOÇÃO DO RIDÍCULO. Isso não vem de brinde com uma conta do Wordpress.

#ficaadica
Exemplo do 'burburinho' sobre o caso MAD

2 comentários:

Ayla Zanini disse...

Excelente post, Bruno!

Gostei bastante da discussão que você fez e das que você deixou com o gostinho de mais. Coitadinhos daqueles que acham que basta dominar as ferramentas de mídias socias, que, como você bem ressaltou, são "apenas ferramentas", para estar à frente dessa corrida maluca. As conversas são outras, os sujeitos mudaram. O lance é muito mais comportamental que tecnológico, não acha?

Marcelo Quaz disse...

"comadres preguiçosas" deixarão de gozar tamanho prestígio. Mais dia, menos dia! Por enquanto, cabe a quem participa disso tudo mostrar que "cantinhos" valem menos do que se imagina, bem menos!

boa

abs

a propósito, dá uma olhada: http://marceloquaz.blogspot.com/2010/03/obre-bate-papo-de-jornalista-ou-seria.html