[ficção (?) programada]
[Aí a dona das horas me fez virar criança, justo no dia em que se comemora a existência da infância. E escalei contornos, brinquei de esconde-esconde com dentes pronunciados, girei abraços, conjuguei lábios, declamei a tabuada das permanências silenciosas e soletrei aquilo que normalmente se demora pra dizer. Hoje acordei homem feito, confrontado pelos reflexos pesarosos dos espelhos, subjugado pelas obrigações de adulto, desfeito de sonhos, preguiças e manhas. Ah, mal sabe a realidade compenetrada que eu posso, quando quiser, falar a língua dos amigos imaginários que ela conjura estalando os dedos e comer do doce mais doce que ela cozinhou de brincadeira pra mim.]